A DISPUTADA PELOS HOLOFOTES NO INTERIOR DA POLÍCIA FEDERAL

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Da esquerda à direita: Leandro Daiello, Osmar Serraglio (alto), Rosalvo Ferreira Franco, Igor Romário de Paulo e Mauricio Moscardi 

Não faltou aviso. Em 2015, quando da indicação de um novo presidente para o IPL 0136/2015-4 – SR/PF/PR – que gerou a Operação Carne Fraca -, o diretor -geral do Departamento de Polícia Federal, Leandro Daiello Coimbra, foi alertado para não permitir que o delegado Mauricio Moscardi Grillo assumisse o caso. Isto, segundo fontes de Curitiba informaram ao Blog, lhe foi encaminhado por escrito, por meio de ofício. Mas ele fez ouvidos moucos e não se intrometeu. Dois outros delegados passaram pelo caso até que o IPL caísse nas mãos de Moscardi, responsável por deflagrar a Operação, hoje considerada desastrosa.

No dia em que ela foi executada – 17/03, sexta-feira – a Superintendência gabou-se de ter sido a maior das operações. Só esqueceu-se de dizer que a falta de planejamento fez com que muitas equipes dessem com o burro n’água: bateram em endereços onde os alvos já não moravam e até procuraram por pessoas já falecidas. Ou seja, faltou exatamente coordenação operacional.

Esse IP passou pelas mãos dos delegados Wiliam Tito Schuman, de Paranaguá, Roberto Biazoli, de Curitiba, Mario Renato Castanheira Fanton, de Bauru. O primeiro a presidi-lo foi justamente Maurício Moscardi Grillo que depois conseguiu a requisição de Fanton junto à DPF de Bauru (SP), passando-lhe o caso. Mas a Fanton também entregaram o Inquérito 737/2015, que o Delegado Regional de Combate ao Crime Organizado (DRCOR) do Paraná, Igor Romário de Paulo, instaurou para investigar os chamados “dissidentes” da Polícia Federal. Nesta investigação, o delegado de Bauru bateu de frente com a cúpula da Superintendência ao narrar ao superintendente Rosalvo Ferreira Franco o que considerou “armações” no curso daquela investigação. Percebeu que armavam algo contra quem estava questionando métodos ilegais na apuração da Lava Jato.

Ao obter ainda a confissão do agente de polícia federal Dalmey Fernando Werlang de que ele próprio instalara um grampo – sem saber que era ilegal – na cela de Alberto Youssef, a pedido de Rosalvo, Igor e do delegado Márcio Anselmo Adriano, que presidia a Lava Jato, Fanton acabou afastado de Curitiba e retornou a Bauru. Antes, foi à Corregedoria em Brasília, quando relatou tudo o que percebera de ilegal. Procurado pelo Blog, recusou-se a comentar o caso da Carne Fraca. Mas, não demorará muito para falar. Segundo o deputado Aluísio Guimarães Mendes (PTN/MA) já foram colhidas assinaturas no requerimento proposto pelo deputado Julio Delgado (PSB/MG) para a Câmara criar uma CPI sobre essa operação. Nela, todos os delegados que estiveram à frente do IPL 0136/2015-4 – SR/PF/PR serão convocados a prestar esclarecimento. Fanton não poderá manter seu silêncio.
Moscardi, embora acusado de ter conduzido irregularmente a Sindicância 04/2015 que investigou o grampo ilegal achado na cela de Youssef – seu trabalho indicou que ele era antigo e estava desativado, o que hoje se sabe que não era verdade -, continuou recebendo o apoio da cúpula da Superintendência. Afinal, como várias denúncias foram feitas, o resultado de sua investigação atendeu aos interesses da cúpula da SR/DPF/PR, justamente por negar algo que todos sabiam que existiu e era ilegal. Só não esperavam que a mentira acabasse sendo descoberta. De qualquer forma, ele não comprometeu os três delegados autores da ordem da instalação da escuta ilegal.

Moscardi, na Sindicância 04/2014, deixou de fazer a perícia no aparelho de escuta encontrado na cela. Com isso, praticou ato que importa em escândalo; deixou de cumprir leis e regulamentos. e, trabalhou mal, intencionalmente ou por negligência.
Moscardi, na Sindicância 04/2014, deixou de fazer a perícia no aparelho de escuta encontrado na cela. Com isso, praticou ato que importa em escândalo; deixou de cumprir leis e regulamentos. e, trabalhou mal, intencionalmente ou por negligência.
Falta de perícia – Foi para evitar o constrangimento de uma investigação melindrosa cair nas mãos de um delegado sob suspeita por conta de um trabalho, no mínimo, mal feito, que alertaram Daiello sobre o risco do mesmo delegado conduzir a investigação em torno dos frigoríficos.

Por conta de outra sindicância que refez o trabalho inicial de Moscardi no caso do grampo da cela, o próprio Daiello já determinou a instauração de um processo Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar o fato de ele ter “trabalhado mal”, como indicou o presidente dessa investigação da Corregedoria, delegado Alfredo José de Souza Junqueira.

Um dos motivos deste Processo Administrativo foi por Moscardi ter deixado de solicitar perícia no aparelho de escuta apreendido na cela. Agora, na Operação Carne Fraca, conforme nota divulgada pela Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais – APCF, cometeu erro parecido. Apesar de mexer com algo sensível por tratar de produtos com peso na pauta de exportação do país, fiou-se em apenas um laudo preliminar, tal como atestou a associação em sua nota pública onde consta:

“Diante do exposto, a APCF tem o dever de esclarecer publicamente que as afirmações relativas ao dano agudo à saúde pública, divulgadas por ocasião da deflagração da “Operação Carne Fraca”, não se encontram lastreadas pelo trabalho científico dos Peritos Criminais da Polícia Federal, sendo que apenas um Laudo Pericial da Corporação, hábil a avaliar tal risco, foi demandado durante os trabalhos de investigação, sem que se chegasse, no entanto, a essa conclusão”.

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Moscardi, na Sindicância 04/2014, deixou de fazer a perícia no aparelho de escuta encontrado na cela. Com isso, praticou ato que importa em escândalo; deixou de cumprir leis e regulamentos. e, trabalhou mal, intencionalmente ou por negligência. – 

Em outras palavras, Moscardi colocou na rua aquela que ele classificou de “maior operação da polícia” fiando-se em apenas um laudo, que ainda por cima não era conclusivo. Ainda assim, generalizou, levantando suspeita sobre todos os frigoríficos, o que provocou a suspensão da importação de carne por diversos países, com reflexo direto na balança comercial do país.

Curioso é o fato de Daiello não ter se preocupado com isto, sabendo, como é do seu conhecimento, que Moscardi, com apenas cinco anos na condição de delegado, ainda não merece total confiança para casos mais complicados. Como o Blog vem mostrando ao longo dos últimos 20 meses em várias das 67 reportagens feitas sobre os bastidores da Operação Lava Jato – veja lista das postagens ao final desta reportagem – além do despreparo, há a falta de credibilidade. Não à toa, recentemente, a Justiça Federal do Acre anulou todo o trabalho por ele feito na Oper5ação G-7, há três anos, quando quis jogar nas costas do PT caso de corrupção. Ele também ainda não foi cobrado, por exemplo, da até hoje não explicada reforma do prédio do Grupo de Investigações Sensíveis – GISE – Polícia Federal, sem verba para a luz, mas com mordomias.

A falta de coordenação da Operação Carne Fraca evidencia-se nas ilustrações ao lado, mostrando que as equipes foram para a rua executar mandados de prisão ou de condução coercitiva de alvos já falecidos. Repassaram ainda endereços errados, onde não foram achadas as firmas procuradas, ou as existentes não guardavam relação com a investigação.

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A falta de coordenação na Carne FracaCurioso é o fato de Daiello não ter se preocupado com isto, sabendo, como é do seu conhecimento, que Moscardi, com apenas cinco anos na condição de delegado, ainda não merece total confiança para casos mais complicados. Como o Blog vem mostrando ao longo dos últimos 20 meses em várias das 67 reportagens feitas sobre os bastidores da Operação Lava Jato – veja lista das postagens ao final desta reportagem – além do despreparo, há a falta de credibilidade. Não à toa, recentemente, a Justiça Federal do Acre anulou todo o trabalho por ele feito na Oper5ação G-7, há três anos, quando quis jogar nas costas do PT caso de corrupção. Ele também ainda não foi cobrado, por exemplo, da até hoje não explicada reforma do prédio do Grupo de Investigações Sensíveis – GISE – Polícia Federal, sem verba para a luz, mas com mordomias.

A falta de coordenação da Operação Carne Fraca evidencia-se nas ilustrações ao lado, mostrando que as equipes foram para a rua executar mandados de prisão ou de condução coercitiva de alvos já falecidos. Repassaram ainda endereços errados, onde não foram achadas as firmas procuradas, ou as existentes não guardavam relação com a investigação.

É, porém, muito simples querer responsabilizar apenas Moscardi pelos erros da generalização na Operação Carne Fraca, que acabou provocando grande prejuízo à economia nacional. Não se pode esquecer quem está por detrás dele, deixando passar livremente as irregularidades ou, pelo menos, indisciplinas. Lembre-se, por exemplo, que o PAD que foi pedido contra ele, caso não seja instalado até maio, poderá provocar a prescrição.

As falhas na coordenação de uma grande Operação podem ser explicada pela mudança ocorrida na Polícia Federal, ainda no governo Lula, quando o delegado Luiz Fernando Corrêa, em agosto de 2007. Foi ele quem, para desmobilizar as grandes operações, acabou descentralizando a coordenação das mesmas, deixando a cargo de cada superintendência, forma bem diferente da adotada pelo seu antecessor, em cuja gestão as operações policiais de grande porte passaram a ser adotada. Na época de Lacerda, dificilmente se correria atrás de alguém já falecido.

Em um texto que circula nas páginas e grupos de policiais e delegados federais, a responsabilidade por tudo o que vem acontecendo é creditada ao diretor geral do DPF. O autor é desconhecido. Em determinado momento apresenta-se como jornalista que dia a dia faz a cobertura do trabalho da Polícia Federal. Para, pelo menos, três delegados diferentes que se manifestaram ao Blog, reflete a realidade. Mostra um desencadear de fatos que, aparentemente, parecem isolados, mas estão interligados. Joga a responsabilidade maior nas costas do diretor geral do DPF, Leandro Daiello Coimbra.

Embora Daiello possa ser responsável maior, também não está sozinho. No Paraná tanto o superintendente, Rosalvo, como o DRCOR, Igor Romário, têm sua parcela de culpa, pois deram asas a Moscardi, por ele ter agido como agiu na Sindicância que investigou o grampo na cela de Alberto Youssef. Encobriram aquilo que a Corregedoria Geral (COGER) depois classificaria como indisciplina do delegado, embora haja quem diga que houve até crime, como mostramos em Armação Federal II: “indisciplinas” do DPF Moscardi. Há ainda um personagem que quase nunca aparece no noticiário, mas tem forte atuação nisso tudo.

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Maurício Leite Valeixo, misterioso personagem na recente história do DPF.

Trata-se do hoje Diretor de Combate ao Crime Organizado delegado Maurício Leite Valeixo. Ele foi superintendente da polícia Federal no Paraná (2009/11), diretor geral de Pessoal (2011/12), diretor de Inteligência Policial (2012/13). Entre 2013 e 2015, ou seja, exatamente no período em que a Lava Jato estava sendo armada (2013) e teve início (março de 2014), esteve como adido policial em Washington, nos Estados Unidos. Há quem lhe credite muito do intercâmbio do DPF com autoridades americanas. Outros, porém, garantem que ele não teve qualquer participação. Fica a dúvida no ar. Mas, no Paraná, ele estaria envolvido em um inquérito – IPL 878/2014 – junto com auditores da Receita, em torno de um investimento imobiliário. Foi instaurado a mando de Igor Romário e, apesar dos quase três anos de tramitação, não se tem notícias do que ele resultou. Em casos assim, inquéritos que ficam paralisados, acabam sendo usados como forma de pressão, quando não servem a objetivos mais espúrios. A participação de Valeixo nos últimos acontecimentos do DPF é misteriosa, mas muitos garantem que é sempre efetiva.

Por fim, os ministros da Justiça – José Eduardo Cardoso e Eugênio Aragão, do governo Dilma; Alexandre de Moraes e Osmar Serraglio, do governo Temer – deixaram de dar limites não só a SR/DPF/PR, como ao DPF como um todo. Todos eles, com medo da opinião pública (ou será publicada?) por acharem que iam ser acusados de tentarem abater a Lava Jato. Como não promoveram as trocas necessárias, podem agora estar assistindo as articulações para efetivamente suspenderem o trabalho de investigação, quando ele chega aos tucanos e membros do governo golpista.

Como correia de transmissão, imprensa veiculou acusações que jamais se confirmaram. Tudo em nome de ficar bem com as fontes…
Como correia de transmissão, imprensa veiculou acusações que jamais se confirmaram. Tudo em nome de ficar bem com as fontes…
Ao longo deste 20 meses, o Blog tem insistido na necessidade de se separar o joio do trigo na luta contra a corrupção.Apontou irregularidades cometidas no início da Operação Lava Jato que foram, simplesmente, ignoradas tanto pelo DPF como pelo Ministério Público Federal – apesar da missão constitucional deste de fiscalizar a Polícia – como pelo Judiciário. Mas também pela imprensa, ou melhor, a chamada grande imprensa cujos repórteres, na ânsia de conseguirem furos e vazamento, jamais questionaram como deveriam delegados, procuradores e até o juiz Sérgio Moro.

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Como correia de transmissão, imprensa veiculou acusações que jamais se confirmaram. Tudo em nome de ficar bem com as fontes… 

Um exemplo deste envolvimento dos jornalistas com os membros da chamada Força Tarefa da Operação Lava Jato está na falaciosa versão dos “dissidentes” da Superintendência. Acusou-se formalmente um delegado, um ex-agente do DPF e dois advogados – sem falar em outros que foram envolvidos – como responsáveis por um dossiê que jamais apareceu. Eles estariam tentando acabar com a Lavas Jato. Assim como, jamais checaram o que esses ditos “dissidentes” tentaram fazer chegar ao ministro José Eduardo Cardoso, via ex-ministro Marcio Thomas Bastos.

Surpreendente é que, três anos depois de iniciada a Lava Jato, vinte meses depois de começarmos a apontar erros e desvios nas investigações, as notícias do Blog pouco a pouco vão se confirmando e começam a surgir críticas que antes não eram feitas. Vide o caso da Ombudsman da Folha de S. Paulo, Paula Consentino Costa, na sua coluna de domingo (19/03) – Um jato de água fria -, na qual revelou que o vazamento das delações dos executivos da Odebrecht ocorreu em uma “Coletiva em OFF”. Há muito que se fala dos vazamentos seletivos que são feitos não só pela PF, mas também pelo MPF, sem que providências tenham sido tomadas. Até o falecido Teori Zavascki havia protestado e pedido investigações a respeito, mas nada foi adiante e tudo caiu no esquecimento. Agora, quando no rol dos acusados começam a surgir tucanos, o ministro Gilmar Mendes insurge-se contra eles.

Pode ser que com o surgimento da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara, estando os ânimos dos políticos bem diferente do que ocorreu em 2015 na CPI da Petrobras, os holofotes mirem, de fato, as irregularidades cometidas. Provavelmente, o primeiro alvo deverá ser Maurício Moscardi, por conta das trapalhadas na Operação Carne Fraca que podem acabar servindo para blindar um setor que não tem nada de santo ou inocente: os grandes frigoríficos. Basta consultar o Ministério Público do Trabalho que se descobrirá pecados nada veniais destes empresários.

Mas, Moscardi – junto com outros da SR/DPF/PR, como, por exemplo, o superintendente Rosalvo e o DRCOR Igor, generalizaram e ao fazê-lo, criaram uma crise na área econômica, em um momento perturbado deste país, ajudando a aumentar a crise que o desgoverno Temer não consegue debelar. Agora, após a desastrada operação Carne Fraca, ninguém consegue adivinhar o que acontecerá com o DPF, Ainda é uma incógnita.

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